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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Olhos do Coração


Jesus Cristo e São Tomé

O corpo de Jorgerepousava em seu leito em um sono dos mais profundos e foi quando o seuespírito libertou-se parcialmente do invólucro carnal que ele recebeu umavisita inusitada: um homem alto, com barba branca, rala e olhar sereno oaguardava de braços cruzados.

Fazia pouco menos de umano que Jorge entrara na corrente mediúnica de um terreiro de Umbanda ondeatuava como cambone. Apesar de amar a Umbanda e os trabalhos das entidades ele,devido ao seu gênio cético, sentia-se pouco à vontade para participar detrabalhos envolvendo obsessores.

A cada trabalho destegênero que acontecia no terreiro ele observava atentamente a tarefa dosdoutrinadores e das entidades junto a estes irmãos necessitados sendo que umadúvida raramente saia de sua cabeça: “Será que tudo isto que vejo é realmenteverdade?”.

Quando esta dúvidatornava-se por demais exacerbada em alguma gira o Caboclo a quem ele cambonavadizia-lhe:

— Firmeza no ponto filho!Firmeza nos trabalhos!

Daí então ele procuravaafastar as dúvidas e concentrar-se nas orações, mas ao sair do terreiro, aostérminos das reuniões, ele invariavelmente dizia aos seus irmãos de fé em tomjocoso: sou discípulo de São Tomé!

Caboclo Rompe Mato era aentidade a quem Jorge cambonava e que ali, dentro daquele terreiro, tinha a incumbênciade comandar as rodas de descarrego.

Ele observava o sentimento crescente de dúvida em seu cambone a cada reuniãoaté que em uma gira a entidade pediu a ele que assentasse no banco dispostoonde aconteciam os trabalhos especiais de descarrego e em que chegavam, quandonecessário, espíritos obsessores e sofredores.

Jorge já se dirigia aobanco determinado pelo Caboclo quando ainda tentou argumentar com a entidade:

— “Seu” Rompe Mato, euestou super-bem na minha vida pessoal, familiar, nos estudos, no trabalho e nãosabia que estava com problemas junto a espíritos obsessores e sofredores!

Fio, não vamosser pejorativos com o sofrimento alheio, chamemos o espírito que aqui semanifestará a implorar perdão como: irmão.

Jorge estava, de fato,sentindo-se muito bem e não entendia o porquê da realização daquele trabalho,entretanto em tom respeitoso ele respondeu à entidade:

— Sim senhor.

— Procure não usar muitoo intelecto; ao invés disto sinta o amor divino em seu coração e procure ofertá-loao irmão que aqui se manifestará tão necessitado do seu perdão. Estamoscombinados?

— Sim senhor!

Jorge respondera ao Caboclosem entender o porquê da ênfase que ele dera a necessidade de perdão por partede seu cambone por que sendo Jorge uma pessoa que não era rancorosa então elenão haveria de ter dificuldades em conceder o perdão a qualquer espírito quelhe solicitasse isto.

Mesmo sentindo-se umdiscípulo de São Tomé, Jorge sentou-se no banco e em poucos minutos um espíritosofredor manifestou-se em um médium que não era o mesmo que cedia o corpofísico para a manifestação do Caboclo Rompe Mato.

O sofrimento do espírito era imenso e muitas lágrimas eram vertidas enquantoele pedia perdão a Jorge:

— Perdão! Perdoe-meErnesto! Hoje sei que o que eu fiz foi errado, mas na época eu julgava que eraamor! Perdão pelo amor de Deus!

Jorge não conseguiaentender nada do que acontecia, pois desde a manifestação deste espírito, nomédium de nome Carlos, um ódio inexplicável brotou do seu coração em relação aoreferido sofredor.

Não suportando acuriosidade e já começando a pensar que estava enlouquecendo Jorge abriu osolhos e olhou para o espírito manifestado em Carlos, mas só que eleestranhamente não conseguia ver o médium apenas o espírito incorporado; foiquando o Caboclo Rompe Mato determinou-lhe:

— Feche os olhos fio!Abra somente o teu coração e procure fazer o que combinamos!

— Sim senhor!

O espírito berrava comtodo o seu sofrer:

— Olhe pra mim Ernesto!Perdoe-me, daqui eu vejo que Renilda, nossa companheira de outrora, está devolta ao seu lado! Você não precisa continuar a odiar-me! Perdoe-me!

Enquanto tudo istoacontecia o Caboclo Rompe Mato estendeu a destra na direção do chacra cardíacode Jorge irradiando energias que funcionavam como um bálsamo nas emoções de seucambone.

Foi somente assim queJorge conseguiu respirar melhor, abrandar as emoções, abrir novamente os olhose balbuciar para o espírito manifestado em Carlos:

— Eu te perdôo! Vá empaz!

O espírito, assim,virou-se em direção ao Caboclo e perguntou:

— E então, falta poucopara eu ser livre?

— Sim meu irmão, em brevevocê será liberto.

— Obrigado, obrigado,obrigado!!!

Foi o que respondeu oespírito em questão antes de desincorporar.

A gira, então, prosseguiunormalmente até o seu término.

Os médiuns despediram-secom abraços fraternais antes de retornarem para os seus lares.

Jorge chegou a sua casae, enquanto tomava um banho, encontrava-se deveras impressionado com o que lheocorrera na gira, mas a fome era ainda maior que sua curiosidade e ele procurounão demorar-se para lanchar. Após uma leve refeição um sono pesadíssimo oacometeu e ele foi preparar-se para deitar.

Somente quando o sono chegou foi que o seu espírito, então semi-liberto docorpo carnal, reparou na visita que recebia em seu quarto: era um homem alto,com barba branca, rala e de olhos amorosamente serenos que o aguardava debraços cruzados.

Jorge fitava os profundosolhos azuis deste homem quando este lhe disse:

— E então, vamos?

— Você desculpe-me, masvamos aonde se eu nem mesmo lhe conheço?

— Seus olhos podem não mereconhecer, mas o seu coração sim. Feche os seus olhos e sinta quem eu sou!

Jorge fechou os olhos eentão o homem estendeu sua destra na direção do chacra cardíaco dele enviandoondas de energia que subiam em direção ao chacra frontal, na direção do“terceiro olho”, como se estivesse a estimulá-lo.

Então, tomado porincontida emoção, foi que Jorge ajoelhou-se respeitosamente e disse ao homem:

— Meu coração o reconhecee saúda senhor Caboclo Rompe Mato!

— Deixe de formalidadesmeu filho! Faça como o de costume em dia de gira: chame a mim de “Seu” Rompe Mato.

— Sim senhor!

— E então? Vamos?

— O senhor me desculpe“Seu” Rompe Mato, mas vamos aonde?

— Ora não é você que vivedizendo aos seus irmãos de fé que é discípulo de São Tomé?

Visivelmente encabuladoJorge respondeu:

— Sim senhor!

— E você não gostaria dever para crer se o seu perdão efetivamente serviu para auxiliar na libertaçãodo espírito que se manifestou a pedi-lo calorosamente na gira?

— Gostaria de ver, masnão para crer, apenas para auxiliar.

— E por que não?

— Por que na última giraeu aprendi a ver pelos olhos do coração.
— Bela resposta meu filho, demonstra sabedoria.

— Na verdade eu não seise conseguiria perdoar aquele irmão se o senhor não tivesse me doado um poucoda sua energia.

— Mas não foi a minhaenergia que o fez perdoar!

— Não!

— Não. A minha energia sóclareou os caminhos para que você pudesse enxergar a luz do perdão divino queexiste não só dentro de ti, mas de cada ser humano.

— Entendo.

— Usando um dos meusatributos eu enviei-lhe uma energia rompedora que o auxiliou a rompertristezas, mágoas e ressentimentos que estavam a obstruir o teu acesso aocaminho do perdão.

— Puxa que lindo!!!

— E então vamos?

— Estou as suas ordens!

E Jorge, acompanhado do CabocloRompe Mato, foi até a região umbralina interligada ao espírito que semanifestara na gira do terreiro a suplicar o perdão dele.

Havia uma espécie decomplexo prisional e eles pararam em frente à cela onde se encontrava oreferido espírito, mas este não conseguia vê-los. Foi então que a entidadedisse a Jorge:

— Vou densificar o seucorpo astral para que o irmão encarcerado possa vê-lo. Não procure dialogar comele, apenas abra as grades e liberte-o!

— Sim senhor!

Jorge, assim, tornou-sevisível ao espírito que, fortemente emocionado, bradou:

— Ernesto! Graças a Deus!Louvado seja Deus! Vejo que de fato você me perdoou! Saiba que muitos seofereceram para abrir este portão, mas eu tinha que recusar! Eu só poderia sairdaqui e ser um homem realmente livre se o meu leal amigo de outrora julgasseque eu merecesse ser liberto por meio do seu perdão e você veio, você veio!Louvado seja Deus!

Jorge percebeu que oportão não possuía tranca alguma e então o empurrou para que a cela fosseaberta.

O Caboclo pedira-lhe quenão travasse nenhum dialogo com o espírito encarcerado e olhar para aquele sermaltrapilho e que exalava odores fétidos era terrível para Jorge, mas foiprocurando manifestar a essência divina do amor e do perdão que haviaencontrado dentro de si que Jorge abriu amorosamente os braços e, procurandovencer a náusea, disse para o ex-encarcerado:

— Venha meu irmão,abraça-me!

Saindo de dentro da celaagradecendo a Deus pelo tamanho infinito de Sua misericórdia o espíritocaminhou com passos inseguros em direção a Jorge e encaixou-se perfeitamentenos seus braços que se apertaram em torno dele com uma força de sinceridade tãopungente que acabaram levando ambos a copiosas lágrimas.

Após alguns instanteseles se soltaram e o espírito foi para uma zona de refazimentoenergético-espiritual acompanhado por um espírito que ele chamava amorosamentede “mãe”.

O Caboclo, então, levouJorge de volta a sua residência após aplicar-lhe uma descarga energéticadesagregadora de fluidos perniciosos.

Após estes procedimentosJorge resolveu perguntar a entidade:

— “Seu” Rompe Mato osenhor permitiu que eu tivesse esta experiência só por que muitas vezes euduvidava se aqueles obsessores e sofredores realmente estavam manifestados nosmédiuns que lhes cediam o corpo e a mente nas giras do terreiro?

— “Só” filho? Você diz“só”? Por que você se julga tão pouco assim meu filho?

— Hein? Desculpe-me, mascomo?

— Filho, entenda que umapirâmide não prescinde da menor de suas pedras, que uma corrente jamais será amesma se um dos seus elos se partir e que, portanto, a força mental, adedicação, o carinho e a prece de cada filho de fé é imprescindível para que acaridade possa ser praticada no andamento de uma gira, está entendendo?

— Sim senhor!

— Em uma gira você não émais e nem menos importante que qualquer irmão de fé ou entidade: você é tãoimportante quanto! O próprio mestre Jesus foi quem disse isto só que nessaspalavras: “Vos sois deuses, se tiverdes fé fareis coisas mais fantásticas das queeu fiz”; então, quem é este Caboclo para desmentir o mestre eterno e amado?

— Entendo.

— Mas a experiência destanoite não aconteceu somente por este motivo, mas também para acabar com quasedois séculos de culpa, dor e sofrimento, certo?

— Sim senhor!

— Então vá meu filho!Retorne ao seu vaso corpóreo por que já é dia e o sol que está nascendo vem adespertar-lhe para os seus compromissos enquanto espírito encarnado!

— Sim senhor!

— Salve Deus!

           — Para sempre Seja Louvado! 


         Autor Desconhecido.
        
        

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