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sábado, 2 de abril de 2011

Liberdade


L

Vovó Benta
Da pena de ouro sobre o branco papel, a ordem que libertaria o negro. Isabel num ato de amor, usando do poder real, comandada pelas forças da luz, libertava os corpos das correntes e ferros em brasa, porém não podia libertar suas almas aprisionadas pelo ódio gerado no sofrimento. Soltou os pássaros da gaiola, mas eles estavam com suas asas cortadas e já não sabiam mais voar. Por isso, diante dos perigos da selva em que foram soltos, onde imperava a lei de sobrevivência, muitos foram se perdendo.
A pele negra ainda era negra e embora liberta pela lei, continuava atrelada a ignorância e ao preconceito. “Negros não possuem alma”, dizia a lei dos brancos. Talvez não a tivessem mais, pois a dor suportada em seus corpos marcados já havia consumido com a lisura de suas almas onde feridas haveriam de permanecer pelo tempo à fora. Era a força do karma que tentava esgotar pesadas dívidas do passado, encontrando diferentes modos de entendimento em cada coração.
Mas embora todo aparato espiritual que protegia Isabel diante da posição assumida, almas negras e endurecidas no mal e que permaneciam no mundo dos mortos, revoltas em seu mar de lama, rebelaram-se na tentativa de manter o poder sobre aqueles que consideravam “os seus escravos”. Brancos encarnados e donos das terras, envolvidos com esses trevosos seres, em medida de repulsa, abandonaram o Imperador, custando a Isabel, momentos de muita dor.
Noites de insônia, onde a paz que seu coração sentia pelo dever assumido e cumprido afinal, era perturbado pelo constante assédio dos inimigos invisíveis. Dor que ainda perdurou no exílio, longe do país que aprendeu a amar e onde terminou seus dias.
Quando enfim, a brandura da morte a buscou, pode rever de outras paragens o resultado que todo bem oferta as almas praticantes dele. Negros de alma branca a recebiam em festa e junto deles, ainda hoje pode abrandar a dor daqueles que não compreenderam a lição, mantendo suas almas enegrecidas.
Labuta ainda a princesa, seja arqueando as costas de quem a recebe, na simplicidade inerente aos pretos velhos ou como mentora daqueles que fazem as leis. Conforta os brancos de almas negras, tentando libertá-los da escravidão de seus próprios egos, na esperança que se cumpra a Lei Áurea em sua plenitude. Tantas vezes, ainda desce aos porões desta grande senzala cortando as correntes que seguram aqueles espíritos cristalizados em suas lembranças escravas.
“Liberdade aos vossos espíritos, abençoados filhos desta terra que tanto amo! Com respeito e amor, daquela que um dia vestiu a roupagem de princesa.”

Mensagem trazida de Aruanda e irradiada por Vovó Benta, um espírito que no trabalho da caridade se liberta de suas correntes e que já usou, entre outras vestes, a de escrava negra no Brasil.
Por Mãe Leni W. Saviscki em 11/05/2008

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