Na mitologia do primitivo povo africano Noc, que mais tarde se transfigurou no povo extinto dos Ilú Ukulmi, há a menção de 600 deuses primários, divididos em duas raças, a dos 400 dos Irun Imole e a dos 200 Igbá Imole, sendo os primeiros deuses do Céu e os segundos deuses da Terra.
Da união entre estas duas raças, que outrora entraram em confronto, surge duas classes distintas de deuses secundários, os Orixás da raça do Irun Imole, e os Ebora da raça dos Igbá Imole, e destes surgem duas classes de deuses, os Orixá Funfun (deuses Brancos), e os Orixá Dudu (deuses Negros), que se uneme formam uma terceira classe, a dos Orixá Pupa (deuses vermelhos), divididos entre Omodê Okunrin ou Descendente Masculino e Omodê Obirin ou Descendente Feminino.
Quando os Igba Imole cessaram as disputas com os Irun Imole, um destes Omodê Okunrin denominado Ogun, foi designado pelo deus supremo, Olodunmarê, para ser o Guardião dos 200 Igbá Imole, e para ser o “mensageiro entre as duas raças de deuses” seria designada uma terceira raça de deuses primários, denominados de Imole Exú.
Distinguidos por diversos epítetos, tais como, Imole Exú Yangui, Imole Exú Agba, Imole Exú Igbá Ketá, Imole Exú Okotô, Imole Exu Odara, Imole Exú Osije, Imole Exú Eleru, Imole Exú Enú Gbarijo, Imole Exú Elegbara, Imole Exú L’Onan, Imole Exú Odusô e outros nomes como protetores de cidades, como Lalu, Akessan, Alaketu, Baralakossô e guardiões e servidores dos Orixás Omodê Okunrin e Obirin, como Imole Exú Gulutú, do Orixá Okô ou o Imole Exu Sorokê, do Orixá Okê.
O culto ao Orixá Omodê Okunrin Okê, englobaria ao culto ao Imole Exu Sorokê, e por ser o Orixá-Okê um deus Odé ou Caçador ligado a Montanha, talvez tenha se fundido ao culto de Ogun, que também é um Odé, muito ligado ao Orixá Omodê Okunrin Okô e ao Orixá Omodê Okunrin Oxóssi, deuses relacionados à agricultura e a caça.
Como houve uma fusão do culto de Ogun com o culto de Okô, na figura de Ogun Gemini ou Gunokô, bem como uma possível fusão com o Orixá Funfun Irokô, ligado aos deuses fitomorfos, pode ter ocorrido também uma fusão do culto de Ogun com o do Orixá Okê e seu Exú Sorokê, criando o epíteto de Ogun Sorokê.
Já que Ogun e Exú são ligados um ao outro, é provável que tenham se fundido o deus Ogun com esse Exú, criando o chamado Orixá Meji ou Duplo, neste caso metade Ogun e metade Exú Sorokê.
O Nome Sorokê, pode derivar de Osô-Arô-Okê, sendo que a partícula Osô significa “detentor do poder mágico”, Arô designa “um deus velho ou antigo” e Okê é “a montanha”, formando então o nome “antigo deus da montanha detentor do poder mágico” ou mais comumente, “Senhor do Alto da Montanha”.
A nomenclatura Osô é um termo também utilizado para os Antigos Feiticeiros, ou designar “feitiço”, “maldição”, bem como nomes de deuses antigos há muito tempo esquecidos como Dsô, Osôgbô, Osô, deuses relacionados aos vulcões e montanhas, associados aos Vodun da família do Raio e do Trovão, como Heviosô, análogos ao deus Dzacuta ou Xangô.
Ogun sendo um deus da forja dos metais e do fogo, provavelmente, se fundiu, ou foi confundido, com o Orixá Okê e seu Exú Sorokê ligados não somente ao Pico das Montanhas, mas também aos vulcões.
Ogun Sorokê, portanto, é um Ogun ligado aos vulcões, ao magma e ao culto aos Osô ou feiticeiros seguidores de Okô.
É além de um deus vulcânico um grande feiticeiro, portador do segredo da forja de todos os metais, inclusive do ouro.
É possuidor da riqueza assim como o seu Orixá Meji Okê que é um deus também da prosperidade e da abundância.
É descrito metade Imole Exú Sorokê e metade Ogun, sendo portanto um deus da guerra, dos caçadores, da forja dos metais, das armas e da magia contida no ouro e no ferro.
Ogun Xoroquê no Brasil:
O culto ao Orixá Okê, tal como, o dos Orixás Okô, Gunokô, Bayanni, Oduduwa, Onilê, Rowú e outros deuses que deixaram de serem cultuados no Brasil, perdeu um pouco das raízes africanas, sendo estes considerados deuses quase que extintos no Candomblé.
Este fato levou muitos sacerdotes deste culto, a reduzirem alguns Orixás a seres “encantados” ou Ekunrun (guias) de Umbanda e de Omolokô do Brasil, como o caso de Gunocô, que não é o Curupira dos indígenas, mas, foi confundido com o mesmo.
Durante esta miscigenação de raças e culturas, muito da tradição do culto destes deuses africanos considerados “extintos” aqui no Brasil foram reduzidos a elementos da crença Indígena, de Umbanda e de seu sincretismo com o Catolicismo, como ocorreu também com o Ogun Xoroquê, sendo muito comum alguns sacerdotes de Candomblé denominar este como “um Exú de Umbanda”, ou seja, um Ekunrun ou um guia como os pretos-velhos, caboclos, boiadeiros, ciganos ou entidades de “incorporação” em “médiuns” espíritas e umbandistas. Erroneamente muitos confundem antigos “diabos ou espectros” da religião antiga sumeriana e babilônica, com o Imole Exú.
Muitos destes entes são denominados por nomes cabalísticos e portam tridentes, adagas, cetros e utilizam insígnias mágicas do ocultismo europeu e da antiga religião nórdica, não que estes entes não existem, eles realmente são verdadeiros e vieram de uma cultura muito rica que é da antiga Suméria, são “demônios” tanto benignos quanto malignos, cujo nome vem do grego “demos” que significa “comunidades, legiões”.
Os entes encantados da Umbanda, na cultura africana são denominados por diversas categorias como de “Kianda ou Quiandas” que são sereias, ondinas ou elementais das águas, que assumem qualquer forma desde a humana como a de peixe ou de seres sobrenaturais, os Ajagun, que são entes maus e também seria um termo que posto como Jagun designa para alguns autores, as entidades guerreiras, guardiões ou talvez as ditas “entidades exus”, os Ajé que é um termo utilizado tanto para designar demônios como também a presença de malefícios, sortilégios, feitiçaria ou deusas feiticeiras, os Ekunrun que são os Guias, os Iwin e os Igi, espíritos ancestrais e fitomorfos das árvores, e os Okú, que designa qualquer defunto ou espectro de ser humano morto, não devendo confundir com Ikú que designa o nome do Igbá Imole Ebora Ikú, que rege a Morte.
Há uma outra categoria de entidades como os Egungun, que é um termo utilizado de forma errada, como acorreu com a confusão de culturas, para designar os Quiandas, Ekunruns, Ajagun, Oku e outras entidades de uma forma geral.
Egungun, cujo nome vem do yorubá Egun, que significa “Ossos”, são Os Antigos Ancestrais, que na verdade são umas das três classes dos Onilê que são seres divinizados sobre a Terra, representados por um único deus chamado pelo mesmo nome, que significa “Dono da Terra”.
As outras duas classes de Onilê são os Babá Agbá Egun ou Os Pais Ancestrais Falecidos, divinizados por seus méritos terrestres, e também os Esá ou Ancestrais Especiais, que são os Babalorixás, Babalawôs e Iyalorixás ou sacerdotes falecidos, os Babá Egun e as Iyá Egun.
O Pai maior ancestral é denominado de Babá Olukotun Olori Egun ou Senhor do Lado Direito da Cabeça dos Mortos, e a Mãe Ancestral Maior é chamada de Iyá Agbá Nlá.
Os Orixás Tutelares destas três classes de Onilê, são Obaluaiyê com poder delegado por Igbá Imole Ebora Ikú e também Iyámi Oyá Igbalé conhecida como Iyá Messesan (Yansan).
Ogun Xoroquê (Sorokê), portanto, não é nem “exú de Umbanda”, nem Egun, nem “caboclo encantado”, ekunrun e afins, é um Orixá que surgiu de um culto do Orixá Okê e seu Imole Exú Sorokê fundido com o culto do Ogun Xoroquê (Sorokê).
Patacuri Ogum.
Ogum Yê meu Pai.
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