O Caboclo Ubirajara já estava para começar sua breve palestra à todos que se encontravam naquela casa de Umbanda, tanto a assistência quanto o corpo mediúnico, antes de se iniciarem os trabalhos espirituais pertinentes a gira.
A entidade possuía praticamente dois metros de altura, face enrugada, olhos castanhos, sinceros, bondosos, mas que despertavam ordem e denotavam imensa autoridade moral.
Vestia-se como se fosse um silvícola de terras brasileiras, entretanto possuía um cocar em sua cabeça formado por penas douradas e possuía incrustado na fronte, na região correspondente ao terceiro olho, um cristal de cor azul-escuro no formato de um losango.
Calei minhas observações e procurei abrir meu coração para escutar a prédica do Senhor caboclo Ubirajara que se iniciaria naquele exato momento.
─ Boa noite meus filhos! Este caboclo os saúda e se alegra com vossa presença nesta tenda de caridade que é de vocês mesmos.
─ A palavra deste caboclo é curta, mas antes preciso relatar a vocês um certo costume existente na tribo a que pertenci quando fui um índio brasileiro em minha última encarnação, há seis séculos.
─ Em nossa tribo, quando recebíamos a visita de alguma tribo vizinha, nós usávamos as “panelas” mais velhas para cozinhar e emprestávamos os nossos ”pratos” mais velhos para eles cearem conosco, enquanto que nós ficávamos com os mais novos.
A assistência entreolhou-se espantadamente pensando que este costume era um tanto quanto esquisito e devo confessar que o corpo mediúnico entreolhou-se da mesma forma, mas a entidade continuou sua preleção dizendo:
─ Aos olhos de vocês este parece um costume um tanto quanto estranho se comparado aos tempos modernos, não é verdade?
Todos esboçaram um sorriso na face como se respondessem afirmativamente à pergunta da entidade.
─ Mas este caboclo vai tentar explicar a vocês a lógica por trás deste procedimento que, à primeira vista, parece mesmo “de outro mundo”:
─ Na nossa tribo as “panelas” e “pratos” mais velhos eram aquelas que haviam sido mais utilizadas por nós ao longo do tempo; ou seja, eram os nossos utensílios culinários mais queridos; e ofertá-los às tribos que nos visitavam era uma demonstração de respeito e afeto.
Sorri ao perceber na fisionomia de todos os presentes naquela casa de caridade a compreensão de que uma mesma situação pode ser interpretada das mais diversas maneiras.
A entidade também esboçou um sorriso no canto direito dos lábios e continuou:
─ Hoje em dia, nos lares brasileiros, vocês se comportam de uma forma bem diferente do que quando este caboclo estava encarnado, não é verdade?
─ As melhores louças, as mais lindas vestes de cama, mesa e banho, vocês só costumam usar, de fato, quando recebem uma visita, não é assim?
─ Quando a casa de vocês está sem visitas vocês não vestem trapos e nem cozinham em panelas furadas, mas, de forma geral, não usam o que têm de melhor, não é assim? Ou este caboclo está errado?
Todos balançaram a cabeça afirmativamente concordando com a argumentação da entidade.
─ Este caboclo não está falando estas coisas para vocês com a intenção de que procedam em suas casas como nós agíamos há pouco mais de seis séculos, pois os tempos são outros, as regras de etiquetas são outras.
─ Na realidade, é natural que tudo na vida evolua, até mesmo os hábitos e costumes; mas este caboclo não pode deixar de ressaltar uma observação importante neste costume moderno de vocês encarnados no que diz respeito a recepção das visitas em vossas casas: vocês procuram ornamentar as vossas residências com objetos que lhes pareçam mais bonitos e preciosos quando recebem visitas e isto é muito nobre aos olhos deste caboclo; mas vocês admiram tanto este hábito praticado com a casa dos vossos corpos que acabam estendendo-o para a casa dos vossos espíritos.
Todos os que escutavam a prédica do caboclo arregalaram os olhos e não conseguiram esconder o sinal de interrogação que brilhava na face de cada um de maneira reluzente.
O reluzir era tanto que a entidade perguntou a seus ouvintes:
─ Qual é a casa dos vossos espíritos?
A maior parte dos ouvintes, então, respondeu:
─ O nosso corpo físico.
─ E como vocês cuidam desta casa tão preciosa? Vocês a higienizam diariamente?
Muitos ficaram estupefatos com a pergunta, entretanto, a entidade amiga prosseguiu em seu colóquio:
─ Este caboclo não está falando de vocês tomarem banho e nem de escovarem os dentes diariamente. Falo é da verdadeira atitude higienizadora da residência dos vossos espíritos: a oração.
─ Vocês usam da oração com regularidade ou somente quando recebem visitas?
Os ouvintes daquela palestra permaneciam a entreolhar-se como se a entidade amiga estivesse “falando grego”.
─ Este caboclo não está falando das visitas que vocês recebem em vossos lares apenas quando são requeridos ou as requerem; caboclo fala é da visita que vocês recebem sem requisição direta de nenhuma das partes.
─ O que vocês costumam fazer quando recebem a visita daquilo que vocês chamam de injustiça?
Uma pessoa da assistência levantou a mão e o caboclo consentiu que ela respondesse:
─ Nós oramos.
─ Muito bom filha, esta é uma atitude muito formosa aos olhos de Tupã! Mas vocês oram sempre? A oração é um prato que vocês devem usar para procurar se nutrir diariamente com os alimentos da fé, amor, evolução, vida, justiça, lei e conhecimento. É um prato que quanto mais usado, mais renovado fica. Vocês usam-no diariamente, em todos os instantes, ou somente quando recebem visitas?
A platéia estava tocada com as palavras do caboclo. Muitos até possuíam o olhar marejado, mas a entidade continuou:
─ E é isto que caboclo quer pedir a vocês meus filhos: orem mais! Cuidem melhor da casa do vosso espírito, pois como disse um sábio há tempos: “mente sã, corpo são”.
─ Tudo aquilo que vocês chamam de situações de injustiça são, na realidade, oportunidades únicas para vocês exercitarem a oração. No entanto, seria muito importante para a evolução de vocês que a prática da oração fosse um exercício diário e constante.
─ Um desportista não espera uma competição se iniciar para que venha a treinar; muito pelo contrário, ele se prepara para ela meses e meses antes de seu início, para que se encontre devidamente preparado quando houver de fornecer testemunho dos efeitos de seu treinamento. Um desportista não procura oferecer o seu melhor apenas nos dias de competição: o seu melhor é oferecido a cada dia de treinamento.
─ Em relação a prática da oração este caboclo pede que vocês procurem agir como o desportista, treinando a vossa mente, a vossa razão, a vossa emoção e o vosso espírito diariamente com o exercício da prece, pois assim agindo estarão sendo devidamente preparados por Tupã para oferecerem testemunhos de vossa fé quando forem visitados pela necessidade de reajuste cármico denominados por vocês como injustiça.
─ Orem meus filhos! Orem dia-a-dia em espírito e verdade, pois somente assim vocês terão condição de desenvolverem a sabedoria: o divino sentimento imprescindível para a evolução e que se desenvolve com muito mais naturalidade se houver a prática da oração.
─ Que Tupã-Nosso-Pai abençoe a todos vocês!
E eu que ali desdobrado estava em tarefa de aprendizado, já com o coração transformado por palavras tão lindas, só pude responder em conjunto com toda a assistência e corpo mediúnico: “ Que assim seja!”
Mensagem do Sr. Caboclo Ubirajara recebida por Pedro Rangel por autorização do Sr. Caboclo Miracy
Um comentário:
Que mensagem maravilhosa!
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